terça-feira, 13 de novembro de 2012

12 NOVAS CERTEZAS DA CIÊNCIA


         O sol já girou à volta da Terra, o mundo foi plano, Plutão foi considerado um planeta e os neurónios dados como insubstituíveis. “Todas as leis científicas são válidas até prova em contrário”, diz José Pedro Mimoso, 53 anos, físico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. E, nos últimos anos, encontraram-se muitas provas em contrário. À boleia da tecnologia, têm sido dados saltos de gigante que vêm destruir velhos paradigmas, sobretudo nas áreas da Genética e da Astrofísica.
         Atualmente, o mundo pode estar a viver uma revolução nas leis da Física. A experiência do CERN, na Suíça, em que foram detetadas partículas (neutrinos) a viajar mais depressa do que a luz – tida como a velocidade limite, na Natureza – causou estupefação nos meios académicos e pode levar à redefinição da Teoria da Relatividade, central na interpretação do Universo. No entanto, mesmo que se comprove em definitivo, ainda deverá demorar muito tempo até que os resultados da experiência sejam integrados nos manuais. Do laboratório aos bancos da escola e, depois, à sociedade, as novas ideias científicas tardam anos a ser conhecidas por todos. A Ciência não vive de dogmas absolutos. E ainda hoje há muita coisa por explicar. Surpreendentemente, ninguém sabe do que é feito o Universo: 96% são matéria e energia escuras. Certo.
Mas os investigadores não fazem a mínima ideia do que aquilo é, em concreto. Apenas sabem que existe. O conhecimento, tal como o Homem, ainda não atingiu o pico da evolução.
PALEONTOLOGIA: “T-Rex” de volta
 MITO - TODOS OS DINOSSAUROS SE EXTINGUIRAM
Facto - Caso não seja vegetariano, é provável que já tenha comido um descendente de dinossauro, esta semana. Sim. Hoje, é praticamente consensual entre os paleontólogos a ideia de que as aves evoluíram a partir dos monstros que governaram o planeta durante dezenas de milhões de anos, até um asteroide lhes terminar o mandato e abrir o caminho aos mamíferos. À primeira vista, custa a acreditar no parentesco entre o temível tiranossauro e a inofensiva galinha. Mas foi precisamente do ramo dos terópodes, a que pertence o T-Rex, que saíram as aves. As primeiras suspeitas surgiram ainda em meados do século XIX, por alturas da descoberta do fóssil de um pequeno dinossauro emplumado, com 145 milhões de anos, batizado de Archaeopteryx. A teoria seria, no entanto, posta de parte nos anos seguintes: as investigações de um cientista dinamarquês no início do século XX apontavam para um antepassado comum dos dinossauros e das aves. As várias semelhanças entre os animais (grandes órbitas, ossos ocos e patas com três dedos virados para a frente e um para trás, por exemplo) eram explicadas pela teoria convergente – espécies sem relação entre si com caraterísticas evolutivas parecidas. Nos anos 1970, a hipótese do parentesco voltou a ser discutida, mas só na década de 1990 o paradigma mudou. Sobretudo depois de ser encontrado, em 1996, um elo perdido na China: o fóssil de um dinossauro com estruturas que aparentam ser precursoras das penas modernas. A partir daí, multiplicaram-se as descobertas de fósseis a reforçar a teoria. Atualmente, são poucos os investigadores que ainda não acreditam que alguns dinossauros sobreviveram e aprenderam a voar.
O ELO PERDIDO? Na década de 1990, foram encontrados fósseis de pequenos dinossauros com vestígios de “protopenas” – filamentos que, acreditam muitos paleontólogos, são precursoras das penas modernas.
NEUROCIÊNCIA: REGRESSO A FERNANDO PESSOA
 MITO - A CONSCIÊNCIA NUNCA SERÁ EXPLICADA
FACTO - É difícil crer que num quilo e meio de massa cinzenta esteja concentrada toda a essência de ser humano,  desde aquilo que sentimos perante um quadro de Van Gogh até ver um filho pela primeira vez. Apoiados por estudos em Biologia do cérebro e em técnicas de Imagiologia, como a ressonância magnética, os neurocientistas têm levantado a ponta do véu daquele que será o mais insondável mistério da vida: o que faz de nós humanos. António Damásio, cientista português radicado há décadas nos EUA, e a sua mulher, Hanna, penetraram na mente de diversas vítimas de acidentes, com significativos danos cerebrais, e identificaram estruturas fundamentais, como o córtex frontal.” Desta forma percebemos que determinadas lesões afetam a consciência”, explica Rui Costa, 39 anos, cientista da Fundação Champalimaud. Estudar a doença é quase sempre o caminho mais curto para entender o funcionamento normal.” O ‘eu’, a identidade, a personalidade não são coisas nem são rígidos. São processos biológicos, construídos no cérebro, a partir de numerosos componentes interativos, passo a passo ao longo de um período de tempo”, escreveu Damásio no The Huffington Post. Alguns destes processos podem ser vistos e localizados no cérebro de voluntários que emprestam a sua cabeça à Ciência. “ Minha alma é uma orquestra oculta; não sei que instrumentos tangem e rangem, cordas e harpas, timbales e tambores, dentro de mim. Só me conheço como sinfonia”, escreveu Fernando Pessoa. Acertou em cheio, diz Damásio. E ainda durante este século ficaremos a conhecer cada um dos instrumentos.
EVOLUÇÃO: AINDA IMPERFEITOS
 MITO - O HOMEM JÁ ATINGIU O SEU PICO
FACTO - Apesar da arrogância que acompanhou a sua omnipotência sobre todas as outras espécies, o Homo sapiens está muito longe de ser perfeito. Na verdade, continuamos a evoluir, ainda que tenhamos atingido um ponto em que conseguimos adaptar o ecossistema à nossa medida, em vez de precisarmos de nos adaptar a ele (o motivo da evolução). A mais estudada destas mudanças genéticas é a capacidade de digerir leite na vida adulta - os humanos que não perderam a enzima responsável por processar a lactose, a açúcar do leite, ganharam uma vantagem competitiva a partir do momento em que o gado foi domesticado. Uma das provas dessa evolução é o facto de os povos do Norte da Europa (um dos locais onde as vacas foram domesticadas mais cedo) terem uma percentagem residual de intolerância à lactose, enquanto nos EUA o número ultrapassa os 15% da população. Essa capacidade genética continua hoje em expansão. Outras duas mutações interessantes são os casos de resistência aos vírus da malária e da sida. Este último, de acordo com alguns estudos, aparenta ser uma consequência paralela do gene CCR5 (relativamente comum na Europa), uma defesa do organismo contra patogénicos, talvez com origem na Peste Negra. Alterações mais visíveis, como cabeças maiores para albergar mais massa cinzenta ou um sexto dedo em cada mão, continuam a pertencer apenas à ficção científica. Por enquanto.
UMA QUESTÃO DE LEITE! Charles Darwin explica a evolução com a necessidade da adaptação ao ecossistema. E o Homem não é exceção: lentamente, há cada vez menos gente intolerante à lactose, o açúcar do leite, e começam a aparecer pessoas com mais resistência a alguns vírus.
ESPAÇO: ALÔ, ET
 MITO - NÃO HÁ VIDA PARA LÁ DA TERRA.
FACTO - É uma questão matemática. A nossa galáxia, a Via Láctea, tem cerca de 50 mil milhões de planetas; desses, estima-se que pelo menos 1% (500 milhões) se encontrem à distância ideal da sua estrela para terem água em estado líquido – essencial para a Terra efervescer de vida; ora, no Universo observável, há mais de 150 mil milhões de galáxias. Feitas as contas, pode-se mesmo reverter a questão: a probabilidade de não haver vida além deste nosso cantinho é praticamente nula. Isso é o que os cientistas garantem atualmente, quase a uma só voz. Mas encontrá-la é outra conversa Acima de tudo porque é muito difícil descobrir planetas do tamanho do nosso (estão demasiado longe, são pequenos e, ao contrário das estrelas, não têm brilho próprio). Ainda assim, nos últimos anos, os astrónomos encontraram planetas semelhantes à Terra, a orbitar uma estrela, na chamada Zona Habitável. Primeiro, foi o Gliese 581d,a 20 anos-luz de distância, observado em 2007 (um estudo de maio deste ano aposta na existência de água e de uma atmosfera estável). Depois, descortinou-se o HD 85512b,a 36 anos-luz, que uma investigação publicada em agosto último dá como ainda mais favorável à existência de vida. E estes são planetas com condições para que haja vida como a conhecemos. Muitos cientistas têm defendido que ela pode surgir em planetas com caraterísticas absolutamente distintas das da Terra. Talvez nem sequer precise de água em estado líquido. E pode estar aqui tão perto como Marte ou algumas luas de Júpiter e de Saturno. Foi por causa dessa suspeita que a NASA enviou uma sonda para a superfície do Planeta Vermelho. A Curiosity aterrou em agosto de 2012 para procurar sinais de vida passada. Quem sabe se não encontrará vida presente, mesmo que na forma de organismos primitivos e microscópicos.
O PIOR É ENCONTRÁ-LA! Os astrónomos têm poucas dúvidas de que haja vida além da Terra. Mas as zonas do espaço onde ela deverá existir estão de tal forma longe de nós, que dificilmente as próximas  gerações terão tecnologia para as descobrir.
UNIVERSO: A FORÇA ESTÁ CONNOSCO, SEMPRE
MITO - NÃO EXISTE GRAVIDADE NO ESPAÇO
FACTO - As imagens de astronautas a flutuar nas cabinas de naves e estações espaciais (reais e ficcionadas) deram ao público a certeza de que, no espaço, não há gravidade. Mas é uma certeza absolutamente falsa. “A gravidade atua em todos os pontos do Universo”, diz o físico José Pedro Mimoso. “ É uma atração universal e não há ninguém que a pare. Apenas decresce com a distância” . Mesmo que um astronauta se encontre nos confins do Sistema Solar, o nosso Sol continua a exercer a sua gravidade – apenas com muito menos intensidade. É, aliás, a força gravitacional que mantém os planetas em redor das estrelas. A suposta ausência de gravidade de quem está em órbita da Terra é só uma ilusão. Na realidade, o que acontece é que os astronautas estão numa nave espacial em queda livre, mas à volta do planeta. Como o aparelho e os homens estão a cair à mesma velocidade, os segundos não são pressionados contra as paredes do primeiro. Todos os dias, sentimos uma amostra mínima deste fenómeno: aquela ligeira sensação de perda de peso quando o elevador começa a descer.
OMNIPRESENTE! A teoria da gravidade proposta por Isaac Newton no século XVII, ajudou o mundo a perceber as dinâmicas do Universo. No entanto, ainda hoje a maior parte das pessoas julga que no espaço os astronautas estão livres da atração. Não estão.
EPIDEMIAS: BOAS NOTÍCIAS; POR FIM!
MITO - A SIDA É UMA PANDEMIA INCONTROLÁVEL
FACTO - “Até há alguns anos, falar no fim da epidemia de sida, a curto prazo, parecia impossível, mas a Ciência, e o empenho político e da comunidade tornaram-no possível”, lê-se no último relatório das Nações Unidas sobre a infeção por VIH no mundo. Por altura dos 30 anos da doença – assinalados a 1 de dezembro- chegam, finalmente, boas notícias: o número de novos casos de VIH está a baixar, incluindo em 22 países da África subsariana; as mortes por sida desceram. Em três décadas, foi trilhado um longo caminho. Da calamidade dos anos 1980, em que não havia absolutamente nada para oferecer aos pacientes, que morriam atacados por infeções oportunistas, passámos a um estado de doença crónica, suportado por diferentes opções terapêuticas. “ Na maioria dos casos, conseguimos controlar o vírus com os medicamentos antirretrovirais”, afirma Eugénio Teófilo, 45 anos, médico do Hospital dos Capuchos, em Lisboa. A última grande novidade neste campo são as formulações em toma única, uma evolução relativamente ao cocktail de vinte comprimidos. Hoje, os três princípios ativos essenciais ao combate à infeção já estão disponíveis numa pílula, o que se espera venha a aumentar as taxas de adesão. “É fundamental que um seropositivo nunca falhe a medicação, para que se consiga controlar o vírus e evitar resistências”, nota aquele especialista em Medicina Interna. Apesar das boas notícias, há aspetos que demoram mais a mudar. Continua a haver “discriminação”, lamenta Eugénio Teófilo. E, contra isto, não há comprimido que valha.
VITÓRIA DE LABORATÓRIO! Ao fim de trinta anos de pandemia, o número de mortes por sida começou, finalmente, a decrescer. Uma conquista dos medicamentos antirretrovirais. O ex-jogador de basquetebol Magic  Johnson é um símbolo mundial de sobrevivência.
GENOMA: A GLÓRIA DO MENSAGEIRO
MITO - O ADN CONTROLA TODA A INFORMAÇÂOGENÉTICA.
FACTO - De entre as moléculas que albergam a informação genética, o ARN (Ácido Ribonucleico, mais conhecido pela sigla inglesa RNA) sempre foi o parente pobre do ADN (Ácido Desoxirribonucleico). O ADN manda, o ARN executa. Na primeira década do novo milénio, os papéis começaram a inverter-se. A molécula em dupla hélice continua a ser a responsável pela transmissão do código genético de pais para filhos, mas o seu mensageiro ganhou honras de protagonista ao ficar provado que tem um papel regulador. Mais: percebeu-se ainda que há diferentes tipos de ARN, para diversas condições biológicas – alguns aparecem em situações de doença, outros associados ao stresse. “Os ARN concretizam a informação do ADN, mas também podem alterá-la. Silenciar alguns genes, acordar outros”, explica a especialista em Genética Cecília Arraiana, 52 anos. ”É como se o ADN fosse o esquema de construção de uma casa e o ARN o construtor, com liberdade para escolher os materiais”, ilustra a investigadora do Instituto de Tecnologia Química e Biológica, em Oeiras. Esta nova visão representa um enorme trunfo terapêutico, já que torna possível o controlo da expressão dos genes, sem ser preciso alterar o genoma. “Ainda estamos em fase de testes, mas o seu potencial é inimaginável.”
DE EMPREGADO A “PATRÃO”… O ARN, sempre considerado mero executor, passou a ser visto como o maestro da expressão genética.
 OCEANOS: H2O EMPRESTADO
MITO - A ÁGUA TEM ORIGEM NA TERRA
FACTO - Talvez seja melhor sentar-se. Esse líquido tão familiar, essencial para a vida no nosso planeta, é extraterrestre. A teoria não é nova. Poucos cientistas modernos diriam em voz alta que a água nasceu por cá (as temperaturas abrasivas, nos primeiros milhões de anos depois da formação da Terra, fariam a água evaporar-se). Além disso, é muito comum por esse Universo fora, ainda que seja sobretudo congelada ou em vapor. Em julho passado, por exemplo, encontrou-se uma nuvem gigante com água equivalente a 140 biliões de todos os oceanos do Planeta Azul, a pairar no espaço longínquo.
  Os astrónomos apontavam as suas desconfianças aos cometas, corpos errantes cheios de água congelada, que passam muitas vezes perto de nós e poderiam, a certa altura, ter-se despenhado na Terra. Havia só um problema: apurou-se, nas últimas décadas, ao observar-se os cometas Halley e Hale-Bopp, que essa água tem uma composição diferente, com um isótopo de hidrogénio mais pesado do que o terrestre (chamado deutério). Até que um estudo da NASA, tornado público em 2009, confirmou a existência de água no asteroide 24 Themis, na órbita entre Marte e Júpiter. Desde aí, tornou-se dominante a hipótese de um impacto de um asteroide ter criado os oceanos. Isto até outubro último, quando o observatório Herschel, da Agência Espacial Europeia, descobriu, no cometa Hartley, água muito semelhante à nossa. O astrónomo que liderou a equipa responsável não mediu as palavras quanto à importância da descoberta: “ O rácio deutério para hidrogénio é praticamente o mesmo do da água dos oceanos. Esta deteção do observatório vai dar um novo impulso a uma discussão muito interessante”, disse Paul Hartogh, do Instituto Max-Planck, da Alemanha. “É entusiasmante ver até onde esta descoberta nos vai levar”.
GALÁXIA INUNDADA! A água em estado líquido não só não nasceu na Terra como é muito comum pelo Universo fora – mas, na maioria dos casos, em forma de gelo e em estado gasoso. Em outubro último, uma nova descoberta veio reforçar a hipótese de que a água do nosso planeta veio à boleia de um cometa.
LONGEVIDADE: SEMPRE JOVENS
MITO - NÃO CONSEGUIMOS PARAR O ENVELHECIMENTO
FACTO - Poucas coisas são tão certas na vida como o envelhecimento. Mas esta fatalidade nunca impediu o Homem de tentar fintar o destino. Nos últimos tempos, o sonho da eterna juventude ganhou argumentos científicos e até um Prémio Nobel. Elizabeth Blackburn, nascida na Tasmânia e naturalizada americana, foi distinguida, em 2009, pela sua investigação nos telómeros, estruturas que revestem as pontas dos cromossomas e protegem o material genético durante a divisão celular. O problema é que vão diminuindo com a idade, até que as células deixam de conseguir dar origem a outras novas. A expectativa é a de que o controlo deste processo permita parar ou até reverter os efeitos da idade. Já este ano, uma equipa do Instituto Dana-Farber, de Boston, publicou um artigo na revista Nature em que descreve o retrocesso no envelhecimento de ratinhos, através da manipulação de uma enzima que regula o funcionamento dos telómeros. Para surpresa dos próprios investigadores, foi possível não só atrasar os sinais e sintomas da idade mas também recuperar a forma perdida: o cérebro dos animais aumentou de tamanho, melhorando a sua capacidade de aprendizagem, o pelo renovou-se e até a fertilidade se restaurou. É claro que há ainda muitos obstáculos a superar. O maior será transpor os resultados para os humanos, sem causar efeitos secundários indesejáveis. Mas já estivemos mais longe de encontrar o elixir da eterna juventude.
VENCER A MORTE? No século XV, falecer aos 67 anos, como no caso de Leonardo da Vinci, era um facto extraordinário. Já no século XXI, é possível que venha a haver comprimidos que nos levem até aos 200 anos.
COSMOS: ÀS ESCURAS
MITO - SABEMOS DE QUE MATÉRIA É FEITO O UNIVERSO
FACTO - É difícil de acreditar, mas apenas conhecemos a composição de uma ínfima parte do Universo. Menos de 5%, na verdade. Quase 96% divide-se, em partes desiguais, em matéria escura e energia escura (até os nomes mostram a absoluta falta de conhecimento dos cientistas). A certeza da existência destas duas “substâncias” decorre da Física, não de observações diretas. “Inferimos que existem porque é a única forma de explicar o comportamento dos corpos celestes”, explica José Pedro Mimoso, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. O físico dá o exemplo da descoberta de Neptuno “percebeu-se que existia ali um planeta devido às alterações que estavam a ser provocadas, por forças gravitacionais, na órbita de Urano”. A certeza da existência da matéria escura parte do mesmo princípio, com uma substancial diferença: é um planeta que está a causar esses efeitos gravitacionais e a perturbar as trajetórias dos corpos no Espaço. Pura e simplesmente, não só não se vê como ninguém faz a mínima ideia do que seja. Pelas contas dos cientistas, estamos a falar de praticamente 30% de toda a matéria do Universo. Não menos misteriosa (e ainda mais abundante) é a energia escura, que perfaz 70% do Universo. Esta tem um efeito oposto ao da matéria escura – de repulsão dos corpos, em vez de atração. E, tal como a sua Némesis, também não se vê. “Há muitas explicações possíveis, mas não temos o menor indício do que sejam”, assegura José Pedro Mimoso. Uma das hipóteses obrigaria mesmo a uma redefinição da teoria da gravidade.
EXISTEM SEM SE VER! Os cientistas sabem bem que estão lá, só não as conseguem detetar. A matéria e a energia escuras são de longe, os dois elementos mais comuns no Universo, mas ninguém conhece a sua composição.
EPIGENÉTICA: O ADN APRENDE
MITO - OS GENES NUNCA MUDAM
FACTO - Na visão tradicional, aprendida no ensino secundário, o genoma é uma espécie de manual de instruções para a construção de um ser vivo. A chave está impressa em todas as células do organismo e o resultado final é uma leitura exata do que está lá expresso. A base continua certa, mas uma teoria recente, com o nome de Epigenética, veio acrescentar elementos surpreendentes. Afinal, o ambiente – alimentação, fumo, stresse, exercício da parentalidade – deixa a sua marca no genoma. Registos que inclusivamente passam para as gerações futuras.
“O ADN não é imutável, como se pensava. O estilo de vida altera os nossos genes”, resume Joana Marques, 33 anos, investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. “ Quando nos expomos a substâncias nocivas, alteramos a expressão do código genético. Pensa-se até que as modificações passam para os gâmetas (células sexuais), o que acaba por comprometer toda a descendência”, exemplifica a especialista, que se tem dedicado ao estudo dos fenómenos epigenéticos. Esta visão mais dinâmica do património genético nasceu a partir de um estudo de 22 mil holandeses, sobreviventes da II Guerra Mundial. Sujeitos a fortes privações alimentares, os que resistiram passaram a sua herança de fome à descendência: os seus filhos nasceram com baixo peso e, em adultos, sofreram mais de diabetes, depressão, cancro da mama ou obesidade do que a média da população. A boa notícia é que, a par desta Espada de Dâmocles, a Epigenética também abriu um mundo de oportunidades no tratamento de algumas doenças mais temidas, como o cancro. No mercado, há já uma meia dúzia de medicamentos que tentam reverter as alterações nocivas provocadas pelo ambiente. E muitos outros estão em estudo.
A DINÂMICA DA GENÉTICA! O stresse, o fumo ou a alimentação alteram os nossos genes. O estilo de vida dos pais pode comprometer o destino da sua descendência.
Revista Visão, 1 de dezembro de 2011