terça-feira, 20 de novembro de 2012
terça-feira, 13 de novembro de 2012
12 NOVAS CERTEZAS DA CIÊNCIA
O sol já girou à volta da Terra, o
mundo foi plano, Plutão foi considerado um planeta e os neurónios dados como
insubstituíveis. “Todas as leis científicas são válidas até prova em
contrário”, diz José Pedro Mimoso, 53 anos, físico da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa. E, nos últimos anos, encontraram-se muitas provas em
contrário. À boleia da tecnologia, têm sido dados saltos de gigante que vêm
destruir velhos paradigmas, sobretudo nas áreas da Genética e da Astrofísica.
Atualmente, o mundo pode estar a viver
uma revolução nas leis da Física. A experiência do CERN, na Suíça, em que foram
detetadas partículas (neutrinos) a viajar mais depressa do que a luz – tida
como a velocidade limite, na Natureza – causou estupefação nos meios académicos
e pode levar à redefinição da Teoria da Relatividade, central na interpretação
do Universo. No entanto, mesmo que se comprove em definitivo, ainda deverá
demorar muito tempo até que os resultados da experiência sejam integrados nos
manuais. Do laboratório aos bancos da escola e, depois, à sociedade, as novas
ideias científicas tardam anos a ser conhecidas por todos. A Ciência não vive
de dogmas absolutos. E ainda hoje há muita coisa por explicar. Surpreendentemente,
ninguém sabe do que é feito o Universo: 96% são matéria e energia escuras.
Certo.
Mas os investigadores não fazem a mínima ideia do que aquilo é, em
concreto. Apenas sabem que existe. O conhecimento, tal como o Homem, ainda não
atingiu o pico da evolução.
PALEONTOLOGIA: “T-Rex”
de volta
MITO - TODOS OS DINOSSAUROS SE EXTINGUIRAM
Facto - Caso não seja vegetariano, é provável que já tenha comido
um descendente de dinossauro, esta semana. Sim. Hoje, é praticamente consensual
entre os paleontólogos a ideia de que as aves evoluíram a partir dos monstros
que governaram o planeta durante dezenas de milhões de anos, até um asteroide
lhes terminar o mandato e abrir o caminho aos mamíferos. À primeira vista,
custa a acreditar no parentesco entre o temível tiranossauro e a inofensiva
galinha. Mas foi precisamente do ramo dos terópodes, a que pertence o T-Rex, que saíram as aves. As primeiras
suspeitas surgiram ainda em meados do século XIX, por alturas da descoberta do
fóssil de um pequeno dinossauro emplumado, com 145 milhões de anos, batizado de
Archaeopteryx. A teoria seria, no
entanto, posta de parte nos anos seguintes: as investigações de um cientista
dinamarquês no início do século XX apontavam para um antepassado comum dos
dinossauros e das aves. As várias semelhanças entre os animais (grandes
órbitas, ossos ocos e patas com três dedos virados para a frente e um para
trás, por exemplo) eram explicadas pela teoria convergente – espécies sem
relação entre si com caraterísticas evolutivas parecidas. Nos anos 1970, a
hipótese do parentesco voltou a ser discutida, mas só na década de 1990 o
paradigma mudou. Sobretudo depois de ser encontrado, em 1996, um elo perdido na
China: o fóssil de um dinossauro com estruturas que aparentam ser precursoras
das penas modernas. A partir daí, multiplicaram-se as descobertas de fósseis a
reforçar a teoria. Atualmente, são poucos os investigadores que ainda não
acreditam que alguns dinossauros sobreviveram e aprenderam a voar.
O ELO PERDIDO? Na década de 1990, foram encontrados fósseis de pequenos dinossauros
com vestígios de “protopenas” – filamentos que, acreditam muitos paleontólogos,
são precursoras das penas modernas.
NEUROCIÊNCIA:
REGRESSO A FERNANDO PESSOA
MITO - A CONSCIÊNCIA NUNCA SERÁ EXPLICADA
FACTO - É difícil crer que
num quilo e meio de massa cinzenta esteja concentrada toda a essência de ser
humano, desde aquilo que sentimos
perante um quadro de Van Gogh até ver um filho pela primeira vez. Apoiados por
estudos em Biologia do cérebro e em técnicas de Imagiologia, como a ressonância
magnética, os neurocientistas têm levantado a ponta do véu daquele que será o
mais insondável mistério da vida: o que faz de nós humanos. António Damásio,
cientista português radicado há décadas nos EUA, e a sua mulher, Hanna,
penetraram na mente de diversas vítimas de acidentes, com significativos danos
cerebrais, e identificaram estruturas fundamentais, como o córtex frontal.”
Desta forma percebemos que determinadas lesões afetam a consciência”, explica
Rui Costa, 39 anos, cientista da Fundação Champalimaud. Estudar a doença é
quase sempre o caminho mais curto para entender o funcionamento normal.” O
‘eu’, a identidade, a personalidade não são coisas nem são rígidos. São
processos biológicos, construídos no cérebro, a partir de numerosos componentes
interativos, passo a passo ao longo de um período de tempo”, escreveu Damásio
no The Huffington Post. Alguns destes processos podem ser vistos e localizados
no cérebro de voluntários que emprestam a sua cabeça à Ciência. “ Minha alma é
uma orquestra oculta; não sei que instrumentos tangem e rangem, cordas e
harpas, timbales e tambores, dentro de mim. Só me conheço como sinfonia”, escreveu
Fernando Pessoa. Acertou em cheio, diz Damásio. E ainda durante este século
ficaremos a conhecer cada um dos instrumentos.
EVOLUÇÃO: AINDA
IMPERFEITOS
MITO - O HOMEM JÁ ATINGIU O SEU PICO
FACTO - Apesar da
arrogância que acompanhou a sua omnipotência sobre todas as outras espécies, o Homo sapiens está muito longe de ser
perfeito. Na verdade, continuamos a evoluir, ainda que tenhamos atingido um
ponto em que conseguimos adaptar o ecossistema à nossa medida, em vez de
precisarmos de nos adaptar a ele (o motivo da evolução). A mais estudada destas
mudanças genéticas é a capacidade de digerir leite na vida adulta - os humanos
que não perderam a enzima responsável por processar a lactose, a açúcar do
leite, ganharam uma vantagem competitiva a partir do momento em que o gado foi
domesticado. Uma das provas dessa evolução é o facto de os povos do Norte da
Europa (um dos locais onde as vacas foram domesticadas mais cedo) terem uma
percentagem residual de intolerância à lactose, enquanto nos EUA o número
ultrapassa os 15% da população. Essa capacidade genética continua hoje em
expansão. Outras duas mutações interessantes são os casos de resistência aos
vírus da malária e da sida. Este último, de acordo com alguns estudos, aparenta
ser uma consequência paralela do gene CCR5 (relativamente comum na
Europa), uma defesa do organismo contra patogénicos, talvez com origem na Peste
Negra. Alterações mais visíveis, como cabeças maiores para albergar mais massa
cinzenta ou um sexto dedo em cada mão, continuam a pertencer apenas à ficção
científica. Por enquanto.
UMA QUESTÃO DE LEITE! Charles Darwin explica a evolução com a necessidade da adaptação ao
ecossistema. E o Homem não é exceção: lentamente, há cada vez menos gente
intolerante à lactose, o açúcar do leite, e começam a aparecer pessoas com mais
resistência a alguns vírus.
ESPAÇO: ALÔ, ET
MITO - NÃO HÁ VIDA PARA LÁ DA TERRA.
FACTO - É uma questão
matemática. A nossa galáxia, a Via Láctea, tem cerca de 50 mil milhões de
planetas; desses, estima-se que pelo menos 1% (500 milhões) se encontrem à
distância ideal da sua estrela para terem água em estado líquido – essencial
para a Terra efervescer de vida; ora, no Universo observável, há mais de 150
mil milhões de galáxias. Feitas as contas, pode-se mesmo reverter a questão: a
probabilidade de não haver vida além deste nosso cantinho é praticamente nula.
Isso é o que os cientistas garantem atualmente, quase a uma só voz. Mas
encontrá-la é outra conversa Acima de tudo porque é muito difícil descobrir
planetas do tamanho do nosso (estão demasiado longe, são pequenos e, ao
contrário das estrelas, não têm brilho próprio). Ainda assim, nos últimos anos,
os astrónomos encontraram planetas semelhantes à Terra, a orbitar uma estrela,
na chamada Zona Habitável. Primeiro, foi o Gliese 581d,a 20 anos-luz de
distância, observado em 2007 (um estudo de maio deste ano aposta na existência
de água e de uma atmosfera estável). Depois, descortinou-se o HD 85512b,a 36
anos-luz, que uma investigação publicada em agosto último dá como ainda mais
favorável à existência de vida. E estes são planetas com condições para que
haja vida como a conhecemos. Muitos cientistas têm defendido que ela pode
surgir em planetas com caraterísticas absolutamente distintas das da Terra.
Talvez nem sequer precise de água em estado líquido. E pode estar aqui tão
perto como Marte ou algumas luas de Júpiter e de Saturno. Foi por causa dessa
suspeita que a NASA enviou uma sonda para a superfície do Planeta Vermelho. A Curiosity aterrou em agosto de 2012
para procurar sinais de vida passada. Quem sabe se não encontrará vida
presente, mesmo que na forma de organismos primitivos e microscópicos.
O PIOR É ENCONTRÁ-LA! Os astrónomos têm poucas dúvidas de que haja vida além da Terra. Mas
as zonas do espaço onde ela deverá existir estão de tal forma longe de nós, que
dificilmente as próximas gerações terão
tecnologia para as descobrir.
UNIVERSO: A FORÇA
ESTÁ CONNOSCO, SEMPRE
MITO - NÃO EXISTE
GRAVIDADE NO ESPAÇO
FACTO - As imagens de
astronautas a flutuar nas cabinas de naves e estações espaciais (reais e
ficcionadas) deram ao público a certeza de que, no espaço, não há gravidade.
Mas é uma certeza absolutamente falsa. “A gravidade atua em todos os pontos do
Universo”, diz o físico José Pedro Mimoso. “ É uma atração universal e não há
ninguém que a pare. Apenas decresce com a distância” . Mesmo que um astronauta
se encontre nos confins do Sistema Solar, o nosso Sol continua a exercer a sua
gravidade – apenas com muito menos intensidade. É, aliás, a força gravitacional
que mantém os planetas em redor das estrelas. A suposta ausência de gravidade
de quem está em órbita da Terra é só uma ilusão. Na realidade, o que acontece é
que os astronautas estão numa nave espacial em queda livre, mas à volta do
planeta. Como o aparelho e os homens estão a cair à mesma velocidade, os
segundos não são pressionados contra as paredes do primeiro. Todos os dias,
sentimos uma amostra mínima deste fenómeno: aquela ligeira sensação de perda de
peso quando o elevador começa a descer.
OMNIPRESENTE! A teoria da gravidade proposta por Isaac Newton no século XVII, ajudou
o mundo a perceber as dinâmicas do Universo. No entanto, ainda hoje a maior parte
das pessoas julga que no espaço os astronautas estão livres da atração. Não
estão.
EPIDEMIAS: BOAS
NOTÍCIAS; POR FIM!
MITO - A SIDA É UMA
PANDEMIA INCONTROLÁVEL
FACTO - “Até há alguns
anos, falar no fim da epidemia de sida, a curto prazo, parecia impossível, mas
a Ciência, e o empenho político e da comunidade tornaram-no possível”, lê-se no
último relatório das Nações Unidas sobre a infeção por VIH no mundo. Por altura
dos 30 anos da doença – assinalados a 1 de dezembro- chegam, finalmente, boas
notícias: o número de novos casos de VIH está a baixar, incluindo em 22 países
da África subsariana; as mortes por sida desceram. Em três décadas, foi
trilhado um longo caminho. Da calamidade dos anos 1980, em que não havia absolutamente
nada para oferecer aos pacientes, que morriam atacados por infeções
oportunistas, passámos a um estado de doença crónica, suportado por diferentes
opções terapêuticas. “ Na maioria dos casos, conseguimos controlar o vírus com
os medicamentos antirretrovirais”, afirma Eugénio Teófilo, 45 anos, médico do
Hospital dos Capuchos, em Lisboa. A última grande novidade neste campo são as
formulações em toma única, uma evolução relativamente ao cocktail de vinte
comprimidos. Hoje, os três princípios ativos essenciais ao combate à infeção já
estão disponíveis numa pílula, o que se espera venha a aumentar as taxas de
adesão. “É fundamental que um seropositivo nunca falhe a medicação, para que se
consiga controlar o vírus e evitar resistências”, nota aquele especialista em
Medicina Interna. Apesar das boas notícias, há aspetos que demoram mais a
mudar. Continua a haver “discriminação”, lamenta Eugénio Teófilo. E, contra
isto, não há comprimido que valha.
VITÓRIA DE LABORATÓRIO! Ao fim de trinta anos de pandemia, o número de mortes por sida
começou, finalmente, a decrescer. Uma conquista dos medicamentos
antirretrovirais. O ex-jogador de basquetebol Magic Johnson é um símbolo mundial de sobrevivência.
GENOMA: A GLÓRIA DO
MENSAGEIRO
MITO - O ADN CONTROLA
TODA A INFORMAÇÂOGENÉTICA.
FACTO - De entre as
moléculas que albergam a informação genética, o ARN (Ácido Ribonucleico, mais
conhecido pela sigla inglesa RNA) sempre foi o parente pobre do ADN (Ácido
Desoxirribonucleico). O ADN manda, o ARN executa. Na primeira década do novo
milénio, os papéis começaram a inverter-se. A molécula em dupla hélice continua
a ser a responsável pela transmissão do código genético de pais para filhos,
mas o seu mensageiro ganhou honras de protagonista ao ficar provado que tem um
papel regulador. Mais: percebeu-se ainda que há diferentes tipos de ARN, para
diversas condições biológicas – alguns aparecem em situações de doença, outros
associados ao stresse. “Os ARN concretizam a informação do ADN, mas também
podem alterá-la. Silenciar alguns genes, acordar outros”, explica a
especialista em Genética Cecília Arraiana, 52 anos. ”É como se o ADN fosse o
esquema de construção de uma casa e o ARN o construtor, com liberdade para
escolher os materiais”, ilustra a investigadora do Instituto de Tecnologia
Química e Biológica, em Oeiras. Esta nova visão representa um enorme trunfo
terapêutico, já que torna possível o controlo da expressão dos genes, sem ser
preciso alterar o genoma. “Ainda estamos em fase de testes, mas o seu potencial
é inimaginável.”
DE EMPREGADO A “PATRÃO”… O ARN, sempre considerado mero executor, passou a ser visto como o
maestro da expressão genética.
OCEANOS: H2O EMPRESTADO
MITO - A ÁGUA TEM
ORIGEM NA TERRA
FACTO - Talvez seja melhor
sentar-se. Esse líquido tão familiar, essencial para a vida no nosso planeta, é
extraterrestre. A teoria não é nova. Poucos cientistas modernos diriam em voz
alta que a água nasceu por cá (as temperaturas abrasivas, nos primeiros milhões
de anos depois da formação da Terra, fariam a água evaporar-se). Além disso, é
muito comum por esse Universo fora, ainda que seja sobretudo congelada ou em
vapor. Em julho passado, por exemplo, encontrou-se uma nuvem gigante com água
equivalente a 140 biliões de todos os oceanos do Planeta Azul, a pairar no espaço
longínquo.
Os astrónomos apontavam as
suas desconfianças aos cometas, corpos errantes cheios de água congelada, que
passam muitas vezes perto de nós e poderiam, a certa altura, ter-se despenhado
na Terra. Havia só um problema: apurou-se, nas últimas décadas, ao observar-se
os cometas Halley e Hale-Bopp, que
essa água tem uma composição diferente, com um isótopo de hidrogénio mais
pesado do que o terrestre (chamado deutério). Até que um estudo da NASA,
tornado público em 2009, confirmou a existência de água no asteroide 24
Themis, na órbita entre Marte e Júpiter. Desde aí, tornou-se dominante a
hipótese de um impacto de um asteroide ter criado os oceanos. Isto até outubro
último, quando o observatório Herschel, da Agência Espacial Europeia,
descobriu, no cometa Hartley, água
muito semelhante à nossa. O astrónomo que liderou a equipa responsável não
mediu as palavras quanto à importância da descoberta: “ O rácio deutério para
hidrogénio é praticamente o mesmo do da água dos oceanos. Esta deteção do
observatório vai dar um novo impulso a uma discussão muito interessante”, disse
Paul Hartogh, do Instituto Max-Planck,
da Alemanha. “É entusiasmante ver até onde esta descoberta nos vai levar”.
GALÁXIA INUNDADA! A água em estado líquido não só não nasceu na Terra como é muito comum
pelo Universo fora – mas, na maioria dos casos, em forma de gelo e em estado
gasoso. Em outubro último, uma nova descoberta veio reforçar a hipótese de que
a água do nosso planeta veio à boleia de um cometa.
LONGEVIDADE: SEMPRE
JOVENS
MITO - NÃO
CONSEGUIMOS PARAR O ENVELHECIMENTO
FACTO - Poucas coisas são
tão certas na vida como o envelhecimento. Mas esta fatalidade nunca impediu o
Homem de tentar fintar o destino. Nos últimos tempos, o sonho da eterna
juventude ganhou argumentos científicos e até um Prémio Nobel. Elizabeth
Blackburn, nascida na Tasmânia e naturalizada americana, foi distinguida, em
2009, pela sua investigação nos telómeros, estruturas que revestem as pontas
dos cromossomas e protegem o material genético durante a divisão celular. O
problema é que vão diminuindo com a idade, até que as células deixam de
conseguir dar origem a outras novas. A expectativa é a de que o controlo deste
processo permita parar ou até reverter os efeitos da idade. Já este ano, uma
equipa do Instituto Dana-Farber, de Boston, publicou um artigo na revista Nature em que descreve o retrocesso no
envelhecimento de ratinhos, através da manipulação de uma enzima que regula o
funcionamento dos telómeros. Para surpresa dos próprios investigadores, foi
possível não só atrasar os sinais e sintomas da idade mas também recuperar a
forma perdida: o cérebro dos animais aumentou de tamanho, melhorando a sua
capacidade de aprendizagem, o pelo renovou-se e até a fertilidade se restaurou.
É claro que há ainda muitos obstáculos a superar. O maior será transpor os
resultados para os humanos, sem causar efeitos secundários indesejáveis. Mas já
estivemos mais longe de encontrar o elixir da eterna juventude.
VENCER A MORTE? No século XV, falecer aos 67 anos, como no caso de Leonardo da Vinci, era
um facto extraordinário. Já no século XXI, é possível que venha a haver
comprimidos que nos levem até aos 200 anos.
COSMOS: ÀS ESCURAS
MITO - SABEMOS DE QUE
MATÉRIA É FEITO O UNIVERSO
FACTO - É difícil de
acreditar, mas apenas conhecemos a composição de uma ínfima parte do Universo.
Menos de 5%, na verdade. Quase 96% divide-se, em partes desiguais, em matéria
escura e energia escura (até os nomes mostram a absoluta falta de conhecimento
dos cientistas). A certeza da existência destas duas “substâncias” decorre da
Física, não de observações diretas. “Inferimos que existem porque é a única
forma de explicar o comportamento dos corpos celestes”, explica José Pedro
Mimoso, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. O físico
dá o exemplo da descoberta de Neptuno “percebeu-se que existia ali um planeta
devido às alterações que estavam a ser provocadas, por forças gravitacionais,
na órbita de Urano”. A certeza da existência da matéria escura parte do mesmo
princípio, com uma substancial diferença: é um planeta que está a causar esses
efeitos gravitacionais e a perturbar as trajetórias dos corpos no Espaço. Pura
e simplesmente, não só não se vê como ninguém faz a mínima ideia do que seja.
Pelas contas dos cientistas, estamos a falar de praticamente 30% de toda a
matéria do Universo. Não menos misteriosa (e ainda mais abundante) é a energia
escura, que perfaz 70% do Universo. Esta tem um efeito oposto ao da matéria
escura – de repulsão dos corpos, em vez de atração. E, tal como a sua Némesis,
também não se vê. “Há muitas explicações possíveis, mas não temos o menor
indício do que sejam”, assegura José Pedro Mimoso. Uma das hipóteses obrigaria
mesmo a uma redefinição da teoria da gravidade.
EXISTEM SEM SE VER! Os cientistas sabem bem que estão lá, só não as conseguem detetar. A
matéria e a energia escuras são de longe, os dois elementos mais comuns no
Universo, mas ninguém conhece a sua composição.
EPIGENÉTICA: O ADN
APRENDE
MITO - OS GENES NUNCA
MUDAM
FACTO - Na visão
tradicional, aprendida no ensino secundário, o genoma é uma espécie de manual
de instruções para a construção de um ser vivo. A chave está impressa em todas
as células do organismo e o resultado final é uma leitura exata do que está lá
expresso. A base continua certa, mas uma teoria recente, com o nome de
Epigenética, veio acrescentar elementos surpreendentes. Afinal, o ambiente –
alimentação, fumo, stresse, exercício da parentalidade – deixa a sua marca no
genoma. Registos que inclusivamente passam para as gerações futuras.
“O ADN não é imutável, como se pensava. O estilo de vida altera os
nossos genes”, resume Joana Marques, 33 anos, investigadora da Faculdade de
Medicina da Universidade do Porto. “ Quando nos expomos a substâncias nocivas,
alteramos a expressão do código genético. Pensa-se até que as modificações
passam para os gâmetas (células sexuais), o que acaba por comprometer toda a
descendência”, exemplifica a especialista, que se tem dedicado ao estudo dos
fenómenos epigenéticos. Esta visão mais dinâmica do património genético nasceu
a partir de um estudo de 22 mil holandeses, sobreviventes da II Guerra Mundial.
Sujeitos a fortes privações alimentares, os que resistiram passaram a sua
herança de fome à descendência: os seus filhos nasceram com baixo peso e, em
adultos, sofreram mais de diabetes, depressão, cancro da mama ou obesidade do
que a média da população. A boa notícia é que, a par desta Espada de Dâmocles,
a Epigenética também abriu um mundo de oportunidades no tratamento de algumas
doenças mais temidas, como o cancro. No mercado, há já uma meia dúzia de
medicamentos que tentam reverter as alterações nocivas provocadas pelo
ambiente. E muitos outros estão em estudo.
A DINÂMICA DA GENÉTICA! O stresse, o fumo ou a alimentação alteram os nossos genes. O estilo
de vida dos pais pode comprometer o destino da sua descendência.
Revista Visão, 1 de dezembro de 2011
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