A CIÊNCIA DOS CONTOS
INFANTIS
Ninguém fica em coma por causa de uma
maçã? Os espelhos não respondem? Beijos apaixonados não curam moribundos? Há
verdades científicas nas mais famosas fábulas.
BRANCA DE
NEVE E OS SETE ANÕES
Que os miúdos acreditem
que uma princesa cai para o lado depois de morder uma maçã é uma coisa, agora,
um adulto fiar-se neste episódio de Branca de Neve? A verdade é que pode
acontecer. A Listeria monocytogeneses, uma
bactéria que existe em alguns alimentos, incluindo maçãs, pode causar coma. Na
vida real, um beijo dificilmente salva ( a não ser que fosse dado por alguém
com a boca cheia de antibiótico!), mas há casos que provam que este momento
romântico também não é totalmente fantasioso: em 2009, uma mulher em coma deu
os primeiros sinais de vida quando o marido a beijou, contou o jornal Daily Mail.
Se olharmos para a
história dos irmãos Grimm na perspetiva tecnológica, descobrimos que até o
espelho falante pode ser real. Sim, a assistente pessoal do iPhone, fica
confusa com a pergunta “Espelho meu, haverá alguém mais bela do que eu?”, mas
tem resposta para muitas outras questões.
ALADINO
O tapete voador é um
dos objetos mais fascinantes do imaginário infantil. Surgiu no livro As Mil e uma Noites e é central no filme
da Disney Aladino, de 1992. Podia
também ser o sonho de muitos adultos, mas todos sabem que não passa de uma
ilusão, certo? Errado: cientistas da Universidade de Harvard publicaram um
artigo que demonstra que é possível pôr um pequeno tapete, leve e fino, a
flutuar.
O ar só tinha de vibrar na
frequência correta, tal como acontece com uma folha de papel, mas não espere
ver pessoas sobre tapetes voadores em breve. É que, para transportar esse peso,
a vibração teria de ser tão forte que a viagem seria, no mínimo, muito
desconfortável.
PINÓQUIO
Originalmente feito de
madeira, Pinóquio transforma-se num menino de verdade na história infantil de
1883. Na série televisiva da ABC Once
Upon a Time, do ano passado, vê-se o oposto: Pinóquio, já adulto, começa a
ver o corpo transformar-se novamente em madeira. Um disparate. A não ser que a
personalidade criada pelo italiano Carlo Collodi sofresse de epidermodisplasia verruciforme. Também
conhecida como doença do homem-árvore, esta condição de pele, muito rara,
carateriza-se pelo aparecimento de verrugas que fazem lembrar cascas, troncos e
raízes de árvores.
O indonésio Dede
Koswara sofre da doença desde a adolescência e ficou famoso depois de um
documentário do Discovery Channel. É
operado semestralmente para retirar o excesso de verrugas das mãos e dos pés,
mas estas acabam por voltar a crescer.
RAPUNZEL
Era uma vez uma bruxa
malvada que tinha uma linda rapariga presa no topo de uma torre. O cabelo dessa
rapariga nunca tinha sido cortado e ela usava uma trança com vários metros de
comprimento. Além do cabelo muito comprido, a rapariga tinha uma voz muito
bonita, que um dia encantou um príncipe que passava na floresta. Eles
apaixonaram-se e o príncipe passou a usar a trança para escalar a torre, como
se fosse uma corda. Já se sabe que a história de Rapunzel, dos Grimm, depois de
algumas peripécias, acaba bem, por isso vamos à pergunta mais pertinente: pode
o cabelo humano suportar o peso de outra pessoa? A ciência diz que sim.
Em média, um fio de
cabelo aguenta com 340 gramas (o equivalente a duas barras de chocolate). Os
cabelos escuros são normalmente mais grossos, logo, mais fortes. Papunzel era
loira, mas mesmo assim podia ajudar o príncipe com a sua trança, garante Nathan
Harshman, professor de Física da American
University em Washington. De acordo com a sua investigação, as mulheres com
cabelo claro têm em média 140 mil pelos na cabeça, aguentando assim mais de 20
mil quilos. O especialista só deixa uma sugestão a Rapunzel : não mandar
simplesmente a trança pela janela para o príncipe subir. Para não sobrecarregar
o couro cabeludo, e reduzir a pressão sobre a cabeça e o corpo, ela deve
amarrar tecido à volta do cabelo. Na próxima adaptação, quem sabe?
A BELA E O MONSTRO
Este conto infantil
foi escrito pela francesa Gabrielle-Suzanne Barbot em 1740, mais de um século
depois de o primeiro caso de hipertricose ter sido identificado. Petrus
Gonzales, das ilhas Canárias, tinha tantos elos por todo o corpo que ficou
conhecido como o homem-lobo. No século XIX, outros ficaram famosos pelo excesso
de cabelos: Jo-Jo, o rapaz com cara de cão; Lionel, o homem-leão; e até a
mulher barbuda, uma aberração que fazia sucesso em circos europeus. Pais de
todo o mundo repetem aos filhos:” Os monstros não existem”. Mas para os homens parecidos
com a personagem central de A Bela e o
Monstro ainda não foi encontrada cura.
O FEITICEIRO DE OZ
“Estou a derreter! Estou
a derreter! Quem diria que uma rapariga como tu podia destruir a minha bela
maldade? Oh que mundo este!” Estas são as últimas palavras da Bruxa Má do
Oeste, que derrete depois da heroína Dorothy lhe atirar um balde de água ao
tentar apagar o fogo do braço do seu amigo Espantalho. É difícil imaginar que
uma pessoa de carne e osso possa reagir como uma vilã de pele verde, mas a
verdade é que há uma doença dermatológica rara que causa reações alérgicas à
água.
As vítimas de urticária aquagénica ficam com manchas
vermelhas ou brancas dolorosas na pele quando tocam em água a qualquer
temperatura – nos casos mais graves, chegam a ser intolerantes às próprias
lágrimas e transpiração. A doença, ao contrário do que acontece no conto
infantil de L. Frank Baum, adaptado ao cinema em 1939, não é mortal e, de
acordo com um estudo publicado no jornal Annals
of Dermatology, foram registados menos de 100 casos desde 1964.
Revista Sábado,
agosto de 2012