segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O FUNDAMENTO CIENTÍFICO POR TRÁS DAS HISTÓRIAS FANTÁSTICAS


A CIÊNCIA DOS CONTOS INFANTIS

      Ninguém fica em coma por causa de uma maçã? Os espelhos não respondem? Beijos apaixonados não curam moribundos? Há verdades científicas nas mais famosas fábulas.

BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES

       Que os miúdos acreditem que uma princesa cai para o lado depois de morder uma maçã é uma coisa, agora, um adulto fiar-se neste episódio de Branca de Neve? A verdade é que pode acontecer. A Listeria monocytogeneses, uma bactéria que existe em alguns alimentos, incluindo maçãs, pode causar coma. Na vida real, um beijo dificilmente salva ( a não ser que fosse dado por alguém com a boca cheia de antibiótico!), mas há casos que provam que este momento romântico também não é totalmente fantasioso: em 2009, uma mulher em coma deu os primeiros sinais de vida quando o marido a beijou, contou o jornal Daily Mail.

      Se olharmos para a história dos irmãos Grimm na perspetiva tecnológica, descobrimos que até o espelho falante pode ser real. Sim, a assistente pessoal do iPhone, fica confusa com a pergunta “Espelho meu, haverá alguém mais bela do que eu?”, mas tem resposta para muitas outras questões.

 

ALADINO

         O tapete voador é um dos objetos mais fascinantes do imaginário infantil. Surgiu no livro As Mil e uma Noites e é central no filme da Disney Aladino, de 1992. Podia também ser o sonho de muitos adultos, mas todos sabem que não passa de uma ilusão, certo? Errado: cientistas da Universidade de Harvard publicaram um artigo que demonstra que é possível pôr um pequeno tapete, leve e fino, a flutuar.

     O ar só tinha de vibrar na frequência correta, tal como acontece com uma folha de papel, mas não espere ver pessoas sobre tapetes voadores em breve. É que, para transportar esse peso, a vibração teria de ser tão forte que a viagem seria, no mínimo, muito desconfortável.

 

PINÓQUIO

         Originalmente feito de madeira, Pinóquio transforma-se num menino de verdade na história infantil de 1883. Na série televisiva da ABC Once Upon a Time, do ano passado, vê-se o oposto: Pinóquio, já adulto, começa a ver o corpo transformar-se novamente em madeira. Um disparate. A não ser que a personalidade criada pelo italiano Carlo Collodi sofresse de epidermodisplasia verruciforme. Também conhecida como doença do homem-árvore, esta condição de pele, muito rara, carateriza-se pelo aparecimento de verrugas que fazem lembrar cascas, troncos e raízes de árvores.

         O indonésio Dede Koswara sofre da doença desde a adolescência e ficou famoso depois de um documentário do Discovery Channel. É operado semestralmente para retirar o excesso de verrugas das mãos e dos pés, mas estas acabam por voltar a crescer.

 

RAPUNZEL

     Era uma vez uma bruxa malvada que tinha uma linda rapariga presa no topo de uma torre. O cabelo dessa rapariga nunca tinha sido cortado e ela usava uma trança com vários metros de comprimento. Além do cabelo muito comprido, a rapariga tinha uma voz muito bonita, que um dia encantou um príncipe que passava na floresta. Eles apaixonaram-se e o príncipe passou a usar a trança para escalar a torre, como se fosse uma corda. Já se sabe que a história de Rapunzel, dos Grimm, depois de algumas peripécias, acaba bem, por isso vamos à pergunta mais pertinente: pode o cabelo humano suportar o peso de outra pessoa? A ciência diz que sim.

       Em média, um fio de cabelo aguenta com 340 gramas (o equivalente a duas barras de chocolate). Os cabelos escuros são normalmente mais grossos, logo, mais fortes. Papunzel era loira, mas mesmo assim podia ajudar o príncipe com a sua trança, garante Nathan Harshman, professor de Física da American University em Washington. De acordo com a sua investigação, as mulheres com cabelo claro têm em média 140 mil pelos na cabeça, aguentando assim mais de 20 mil quilos. O especialista só deixa uma sugestão a Rapunzel : não mandar simplesmente a trança pela janela para o príncipe subir. Para não sobrecarregar o couro cabeludo, e reduzir a pressão sobre a cabeça e o corpo, ela deve amarrar tecido à volta do cabelo. Na próxima adaptação, quem sabe?

 

A BELA E O MONSTRO

           Este conto infantil foi escrito pela francesa Gabrielle-Suzanne Barbot em 1740, mais de um século depois de o primeiro caso de hipertricose ter sido identificado. Petrus Gonzales, das ilhas Canárias, tinha tantos elos por todo o corpo que ficou conhecido como o homem-lobo. No século XIX, outros ficaram famosos pelo excesso de cabelos: Jo-Jo, o rapaz com cara de cão; Lionel, o homem-leão; e até a mulher barbuda, uma aberração que fazia sucesso em circos europeus. Pais de todo o mundo repetem aos filhos:” Os monstros não existem”. Mas para os homens parecidos com a personagem central de A Bela e o Monstro ainda não foi encontrada cura.

 

O FEITICEIRO DE OZ

        “Estou a derreter! Estou a derreter! Quem diria que uma rapariga como tu podia destruir a minha bela maldade? Oh que mundo este!” Estas são as últimas palavras da Bruxa Má do Oeste, que derrete depois da heroína Dorothy lhe atirar um balde de água ao tentar apagar o fogo do braço do seu amigo Espantalho. É difícil imaginar que uma pessoa de carne e osso possa reagir como uma vilã de pele verde, mas a verdade é que há uma doença dermatológica rara que causa reações alérgicas à água.  

       As vítimas de urticária aquagénica ficam com manchas vermelhas ou brancas dolorosas na pele quando tocam em água a qualquer temperatura – nos casos mais graves, chegam a ser intolerantes às próprias lágrimas e transpiração. A doença, ao contrário do que acontece no conto infantil de L. Frank Baum, adaptado ao cinema em 1939, não é mortal e, de acordo com um estudo publicado no jornal Annals of Dermatology, foram registados menos de 100 casos desde 1964.

          

       

  Revista Sábado, agosto de 2012

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