domingo, 5 de dezembro de 2010

Bibliotecas Cheias de Fantasmas, de Jacques Bonnet | tradução de José Mário Silva

A Paixão pelo livro explicada aos néscios
(artigo de opinião do jornalista Elmano Madail, in Jornal de Notícias, Domingo, 5 de Dezembro de 2010)
Os livros electrónicos registam um crescimento exponencial, o que é positivo; todavia não são livros mas antes textos electrónicos, letras desenhadas por códigos binários que tremulam no ecrã? Um objecto tecnológico sem personalidade. Falta-lhes o cheiro, a textura, o peso, o sublinhado indelével que acrescenta à obra de outrem, e não comportam o risco de incêndio ou da inundação, os espectros da destruição definitiva. Falta-lhes enfim a materialidade que confere a sensação de posse de um tesouro. Quem exulta com um objecto assim frágil e padece de tais receios é um bibliófilo, aquele que ama o livro em todas as suas dimensões e se dedica à construção da biblioteca.
É um amor pleno de sacrifícios (como todos os que valem a pena) – desde a necessidade de espaço para albergar a biblioteca em expansão, até à vigilância atenta às humidades e pequenos predadores do papel - , e angústias várias, sendo a maior delas a fatal falta de tempo para se ler tudo o que se gostaria e se tem lá pelas estantes da biblioteca pessoal.
Bibliotecas cheias de Fantasmas trata dessa estranha tribo construtora de bibliotecas e que tem até um santo mártir: Charles – Valentin Alkan, pianista esmagado, a 30 de Março de 1888, pela própria biblioteca durante o sono (tinha estantes sobre a cama). Deferência que promana da excepção; as bibliotecas usam ser, pelo contrário, confortáveis e protectoras.
Segundo Bonnet, “ a biblioteca protege a hostilidade exterior, filtra os ruídos do mundo, atenua o frio que reina à volta, mas confere, igualmente, uma sensação de impotência. Porque a biblioteca faz recuar as pobres capacidades humanas: ela é um concentrado de tempo e de espaço. Reúne nas suas prateleiras todos os estratos do passado. Ali estão os séculos que nos precederam”. E não carece de electricidade.

domingo, 21 de novembro de 2010

A aprendizagem através dos cinco sentidos...

A pessoa humana conhece o Mundo e os outros através dos cinco sentidos ....
1%  através do paladar
2%  através do tacto
3%  através do olfacto
11%  através da audição
83%  através da visão
Um estudante memoriza
10% do que lê
20% que ouve
30% do  que vê
50% do que vê e ouve
70% do que vê, ouve e debate
90% do vê, ouve, debate e faz
100% do que vê , ouve, debate,faz e ensina
Depois de três horas lembra-se ...
70% do que ouviu
72% que viu
85% do  que viu e ouviu 
Depois de três dias Lembra-se ...
10% do que ouviu
20% do que viu
65% do que ouviu e viu

"A Roubalheira" de Alice Vieira

Todas as pessoas têm sempre muitas teorias explicativas, sem margem para dúvidas, das causas que levam ao afastamento da leitura. A primeira, mas a primeira mesmo (aquela que é mesmo tão primeira, tão primeira, mas tão primeira que até chateia de ser tão primeira - como diriam os Gatos Fedorentos) é o preço dos livros. Aqui d’el rei que as criancinhas não lêem porque os livros custam uma fortuna. Fossem os livros mais baratitos e vocês iam ver como as crianças (e os adultos) não faziam outra coisa senão ler de manhã à noite.
Mas ao preço a que os livros estão...
Pois é. Toda a gente já ouviu este discurso, toda a gente já invocou, numa ocasião ou outra, esta desculpa. Esfarrapada.
Esfarrapadíssima.
Porque é evidente que é tudo uma questão de prioridades: será sempre caro tudo aquilo de que não sinto falta.
Há muita outra coisa, bem mais cara do que um livro, e de cujo preço ninguém se queixa. Nunca, em tempo algum, um pai (ou mãe) de família se chegou junto de mim protestando contra o preço, por exemplo, de uma consola, de um jogo de vídeo, de um iPod, de um telemóvel dos que tiram fotografias e fazem downloads de músicas e mais não sei quantas maravilhas. Isto já para não falar de coisas bem mais banais como, por exemplo, um par de ténis com rodinhas fluorescentes, um bilhete para o futebol ou para um concerto de qualquer banda. Para tudo isso que, nestes estranhos tempos, as crianças exigem, o dinheiro parece chegar sempre. O pior são os livros. Os livros é que estragam tudo. Uma chatice, os livros.
Foi isso, de certeza, o que pensou também aquele digníssimo pai de família que, nesta última Feira do Livro de Lisboa, diante do stande da Caminho, rapou de um papel que trazia no bolso e leu o título que lá escrevera.
«É para o meu filho», disse.
A empregada do stande foi buscar o livro e, tentando ser amável, apontou para mim e explicou ao senhor que eu era a autora do dito livro, coisa que não pareceu interessá-lo por aí além.
«Se quiser um autógrafo...», acrescentou a moça.
O homem olhou para mim, encolheu os ombros e lá me estendeu o livro, repetindo que era para o filho, que ele nem sabia que livro era aquele, ele dispensava leituras, mas o filho é que lhe tinha pedido, o filho é que até tinha escrito o nome no papel. E pronto, por isso é que ele ali estava. O que a gente não faz por um filho, caramba...
E enquanto eu me esforçava por escrever alguma coisa ligeiramente mais original do que o fatal «com um abraço», que diabo!, quem tinha um pai daqueles merecia um pouco mais de atenção - ele ia continuando a cantilena, e agora estávamos, evidentemente, no preço dos livros, que era uma roubalheira, uma pouca vergonha, como é que um livro tão pequeno como aquele tinha aquele preço, «Olhe, a lista telefónica é muito maior e é de borla!», e ria muito alto com a graça que estava a ter.
«Espero que ele goste», disse eu, entregando-lhe o livro quase a pedir desculpa de ter escrito um livro tão pequeno para a próxima havia de me esforçar por chegar aos calcanhares da lista.
Nova risada e novo encolher de ombros, «Se calhar nem gosta, ele também não vai muito à bola com os livros, mas que é que quer, a professora lá na escola é que mandou comprar, e você sabe como são agora os professores: mandam comprar toda a m... que aparece!»
No interior do stande há um silêncio a mascarar as gargalhadas que todos sufocamos com dificuldade, enquanto ele lá vai, alameda acima, resmungando contra a leitura, o preço dos livros, os professores, a roubalheira, a pouca vergonha.

Alice Vieira, Pezinhos de Coentrada, Casa das Letras, 2006

sábado, 30 de outubro de 2010

Estudar com tino


O acto de estudar não implica que tenhamos de “marrar” horas a fio. Pelo contrário, devemos ter horas para tudo: para praticar desporto, conviver com os amigos, ver televisão, conversar na Internet, enviar sms, ….
Mas o futuro também se constrói agora e por isso é preciso dedicar uma boa parte do tempo ao estudo.
Mesmo que se falhe num ou outro teste ou trabalho, é necessário construir a confiança todos os dias.
Aqui ficam quatro conselhos para o sucesso!
· Sempre que possível, é bom escolher a manhã ou o fim da tarde para o trabalho mental. Antes de dormir só pequenos trabalhos ou revisões!
· Os trabalhos de concentração devem ser desenvolvidos por pequenos períodos e, quando sentirmos cansaço, devemos fazer uma pequena pausa(15 a 20 minutos!) ou mudar para outra matéria mais “ligeira”.
· Devemos fazer um horário para estudar e tentar cumpri-lo.
· Estudar não é sinónimo de estudar muito. Convém:
                -saber “ler”
                -saber distinguir o essencial do acessório num texto
                -saber resumir
                -saber tirar apontamentos
                -saber interpretar.
Agora é só começar e cumprir!

Dicas para elaborar um trabalho de pesquisa

· Consulta os ficheiros para verificares se existem na biblioteca obras diversas sobre o tema.
· Selecciona a informação necessária, nunca esquecendo de anotar  de onde foi retirada(obra, página, autores , editor e edição)
· Não esqueças que, na forma ,o trabalho deve obedecer a regras de organização:
            - a Introdução (onde se apresenta o tema e os objectivos do trabalho, os pressupostos que conduziram ao mesmo e a metodologia de trabalho que se vai  seguir;
            - o Desenvolvimento ( onde se encontra o quadro teórico que serve de base ao tratamento do tema. Pode conter várias sub -partes conforme os aspectos que se pretende abordar);
            - a Conclusão (onde se sintetiza a pesquisa efectuada, onde se propõem respostas e soluções para a questão (ou problemas) formulada na introdução.
· O trabalho deve incluir os elementos paratextuais:
            - a capa (com o título do trabalho, o nome do autor, a indicação da instituição onde é apresentado – escola ou outro—e ainda o local e data de execução);
            - o índice geral( como todos os títulos e subtítulos e respectiva paginação);
            - a bibliografia(apresentada no final do trabalho, a que se pode juntar a explicação de notas de rodapé ou a listagem de imagens utilizadas).



Pensamentos...




sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A Biblioteca da ESEQ

No início do século XX, nas instalações provisórias na antiga fábrica do Gás.....


 Em 2010, em edifício próprio desde 1952...


Biblioteca Patrimonial


Biblioteca Patrimonial


Biblioteca Patrimonial



Sala de Estudo

Sala de Estudo

terça-feira, 5 de outubro de 2010

“Curiosidades” da República

Os banhos de mar



A Póvoa de Varzim é uma terra onde o mar se enrola na areia. Por isso, era muito procurada no início do século XX para os banhos de mar que eram recomendados pelos médicos para fortalecer o organismo, não  podendo ser considerados um prazer.
Os fatos de banho, de pano, tapavam o corpo quase por completo e as mulheres usavam também toucas de folhos para proteger o cabelo.
 Os banheiros encarregues de acompanhar os banhistas obrigavam-nos a mergulhar ou despejavam baldes de água sobre a cabeça dos mais renitentes.
Quase ninguém sabia nadar e o que os banhistas mais desejavam era sair rapidamente da água e mudar de roupa nas barraquinhas de madeira que existiam nas praias para esse efeito. Era costume tomar então uma bebida forte e até às crianças se dava pelo menos uma colher de vinho, de preferência vinho do Porto, se a família tivesse possibilidades.


                                        A moda dos chapéus

Na época da Primeira República estava na moda o uso de chapéus para homens, mulheres e crianças e havia modelos diferentes para as várias ocasiões. Nas festas ou cerimónias os homens usavam cartola. Os homens do povo, mesmo os mais pobres, que podiam eventualmente andar descalços, não dispensavam o seu boné. Tirar o chapéu era uma maneira delicada de cumprimentar as pessoas que passavam.
 Quanto às senhoras e meninas também os usavam. Havia modistas de chapéus que confeccionavam chapelões enormes ou chapelinhos enfeitados com plumas, flores, fitas e laços a condizer com as roupas que vestiam. Para os rapazes, enquanto pequenos, era comum escolherem-se bonés de marinheiro. Na adolescência outro tipo de bonés, por exemplo o de modelo escocês.
A profissão de chapeleiro era bastante reconhecida.


O desporto Futebol



O futebol surgiu em Inglaterra, oficialmente no ano de 1863. Chegou a Portugal dezoito anos antes da Implantação da República. Quem trouxe a novidade foram uns rapazes da família Pinto Basto que tinham  estudado em Inglaterra. Gostaram daquele desporto e no regresso apresentaram-se com as bolas, os equipamentos e as regras do jogo que logo entusiasmou muita gente.
Ainda não havia campos fixos nem relvados, por isso escolhiam-se terrenos planos e lisos, montavam-se as balizas e realizavam-se então partidas de “Foot-Ball”. De início, o vocabulário relacionado com o jogo continuou na língua de origem, o inglês. Dizia-se “goal” em vez de golo, “goal keeper” em vez de guarda-redes, “line-man” em vez de juiz de linha.
O interesse pelo futebol alastrou rapidamente, envolvendo todos os grupos sociais. Em 1910, além dos grupos espontâneos, já existiam o Futebol Clube do Porto, o Sport Lisboa e Benfica e o Sporting Clube de Portugal. O primeiro Campeonato Nacional teve lugar em 1921. Venceu o Sporting.

Xaropes, unguentos e elixires

Tinha a República Portuguesa cinco anos quando a Bayer fabricou os primeiros comprimidos de aspirina.
Até aí, eram os medicamentos naturais como a casca de salgueiro que aliviava as dores, ou conseguia-se um pó muito eficaz contra as dores e as inflamações a partir de plantas como a ulmária, a rainha-dos-prados. É da ulmária, que tem o nome latino spiraea ulmaria que deriva da palavra aspirina. Revelou-se um medicamento de tal forma extraordinário, que o público lhe chamava “pó mágico”. Mais uma novidade que chegou do estrangeiro durante a Primeira República.
No início do século XX grande parte da população portuguesa não tinha acesso a cuidados médicos por viver longe das cidades onde havia hospitais. As doenças tratavam-se em casa com xaropes, chás e pomadas caseiras. Mesmo os que podiam recorrer aos hospitais não encontravam solução para muitos dos seus males, pois a medicina da época estava ainda muito atrasada.
Havia também os vendedores de rua como os que vendiam unguentos ou pomadas para a pele que também eram “confeccionadas” nas “Pharmacias”.

As pipocas

Só em 1907, três anos antes da Implantação da República, foi inventada nos Estados Unidos a máquina eléctrica que continua a ser utilizada para fazer pipocas.
Na altura, foi publicitada como electrodoméstico de grande qualidade. Os anúncios diziam o seguinte: “Da enorme variedade de utensílios eléctricos caseiros, a nova tostadeira de milho é a mais leve e pode ser usada por crianças sem que haja perigo de causarem danos a si próprias, à mesa ou à sala”.





sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A prática de ginástica no Liceu da Póvoa de Varzim na implantação da República

Data do século XIX, mais propriamente de 1887, a introdução da disciplina de Educação Física nos liceus. Face a uma ausência de referências teóricas em Portugal esta seguirá, sensivelmente, as directrizes que lhe eram sugeridas pela ginástica militar e pelo sistema sueco que se baseia num trabalho bastante rígido, com um desenvolvimento harmónico de todo o corpo, exercícios simétricos moderados e de fácil compreensão, realizados com uma dificuldade progressiva e, de preferência, sem aparelhos, em pé e obedecendo a uma voz, embora também existam alguns exercícios com aparelhos simples: cambalhotas, suspensões, equilíbrios. Tudo isso se apoiava no estudo de base biológica das formas e efeitos dos exercícios; trata-se de uma ginástica "para todos os públicos”. Seguindo critérios fisiológicos, a aula de ginástica dividia-se em aquecimento, parte fundamental e relaxamento.
A higiene, e a Ginástica como parte dela, integrava as propostas pedagógicas. Em escritos publicados em 1902, está destacada a importância da ginástica nas escolas: "os exercícios ao ar livre são necessários ao desenvolvimento da musculatura (sendo úteis às crianças e adolescentes), ao desenvolvimento da destreza, agilidade, velocidade e força, preciosos em todas as classes da sociedade".
O liceu é visto como o sítio que propicia a aprendizagem de saberes e de hábitos de viver sadios que compõem o ideal de “educação higiénica” da qual a escola é o caminho mais viável economicamente para ampliar a rede higiénica a todos da sociedade. Dez dias após a Revolução Republicana, ocorrida em 5 de Outubro, o Ministério da Guerra nomeou uma comissão encarregada de elaborar um projecto de regulamento de instrução militar preparatória que compreendia a educação cívica, a ginástica, os exercícios elementares de táctica, as noções militares, tiro ao alvo e equitação, obrigatória, inclusive para as crianças e jovens que não frequentassem as escolas primárias e secundárias.
Estavam livres da instrução os jovens que já estivessem alistados, os considerados inaptos por comissões competentes e os que morassem a mais de 5 quilómetros do local de instrução.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O nosso patrono

Luís Amaro de Oliveira

Professor e autor de estudos didácticos, Luís Amaro de Oliveira nasceu a 7 de Julho de 1920, em Braga, e faleceu a 16 de Janeiro de 1991.
Após ter concluído os estudos secundários naquela cidade, iniciou o curso de Filologia Românica, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e terminou-o na Universidade Clássica de Lisboa, tendo tido ilustres professores como Vitorino Nemésio, Delfim Santos e Jacinto do Prado Coelho.
Em 1949, casou-se com Maria Margarida Fonseca Oliveira, de quem teve seis filhos. Conviveu com um grupo de amigos das mais diversas áreas, com quem se encontrava, na Póvoa de Varzim, e dos quais se destacam José Régio, Manoel de Oliveira, Agustina Bessa-Luís, Pacheco Neves, entre outros.
Leccionou na Escola Ferreira Borges (1945-1950) e na Escola Afonso Domingues (1950-1953), ambas em Lisboa. Nessa altura, procurava informações sobre a família de Cesário Verde, em Linda-a-Pastora, tendo conhecido o barbeiro do Poeta que lhe forneceu importantes informações para o estudo desta figura da literatura portuguesa.
Após esses anos em Lisboa, instalou-se, com a família, na Apúlia, e passou a leccionar na Póvoa de Varzim, na Escola Comercial e Industrial, no Liceu Nacional da Póvoa de Varzim (agora, Escola Secundária Eça de Queirós) e na actual Escola Secundária Rocha Peixoto. Entre 1960 e 1962, realizou o estágio pedagógico no actual Liceu Rodrigues de Freitas, no Porto, sendo posteriormente docente no Liceu Alexandre Herculano, também naquela cidade, entre 1975 e 1990, exercendo funções de orientador de estágio e de metodólogo itinerante.
Publicou vários trabalhos e obras dos quais se salienta Cesário Verde: Novos Subsídios para o Estudo da sua Personalidade (1944), Para uma Biografia de Cesário (1952), Antologia de Lendas Narrativas e Contos (1965), Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett – realização didáctica (1968), Viagens na Minha Terra de Almeida Garrett - realização didáctica (1975). Colaborou também em dicionários de Português-Francês e Francês-Português.

Luís Amaro de Oliveira. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-09-27].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$luis-amaro-de-oliveira>.